O Egito antigo é fascinante, seja por suas construções, seu povo, suas crenças, artes, mas algo que surpreende no Egito é a parte que cuidava da beleza, os cabelos, corpo, rosto, perfumes, o povo egípcio estava sempre criando novos produtos que hoje são essenciais para acrescentar a beleza, no Egito antigo nasceu a estética.
COSMÉTICOS
Esfoliantes, epilação, cremes anti-rugas, métodos para eliminação de estrias, extensões capilares, halitosis e odores corporais desagradáveis, parecem expressões muito modernas e associadas a qualquer montra de uma das nossas metrópoles actuais, no entanto, todos eles eram também conhecidos no antigo Egipto.
Cleópatra VII, é talvez a mais afamada mestra desta arte, tendo-lhe sido imputada a criação de um livro onde revelava os seus segredos de beleza. Os Egípcios usavam cosméticos independentemente do seu sexo e “status” social, tanto por razões terapêuticas como estéticas. Utilizavam muito frequentemente maquilhagem branca, preta (feita à base de óxido de carbono ou magnésio) e, maquilhagem verde (derivada da “malaquite” e outros materiais compostos por cobre). O vermelho ocre obtinha-se misturando terra com água e aplicava-se nos lábios e nas maçãs do rosto. A “henna” usava-se para cobrir as unhas de amarelo ou laranja. Foram encontrados tubos, com o nome de Nefertiti e da sua filha, nos quais guardavam khol, uma tinta para os olhos, que se obtinha misturando e reduzindo a pó, antimónio, óxido de cobre, amêndoas queimadas, “malaquite” verde, “cerussite” (um carbonato branco de chumbo) e, algumas vezes, pequenas porções de compostos de chumbo, “laurionite” e “fosgenite”, que posteriormente era misturado com óleo ou gordura. Este produto era armazenado em jarros e aplicado nos olhos, recorrendo ao uso de um pequeno pau. Entre os achados arqueológicos mais antigos, contam-se inúmeros destes jarros, alguns deles ainda por utilizar, como o encontrado no túmulo de Tut-anj-Amon, em forma de leoa, o qual continha unguentos e perfumes onde se puderam identificar 7 tipos diferentes de óleos vegetais e um óleo de origem animal. Estes recipientes eram inicialmente construídos de granito e basalto e posteriormente de alabastro. Pintavam-se as pálpebras superiores e inferiores, acrescentando-se uma linha desde o canto do olho, até aos temporais. Acreditava-se que a maquilhagem tinha propriedades mágicas e até curativas.
Os Egípcios acreditavam que ao se apresentarem perante os deuses, no dia do julgamento da morte, tinham que observar certas regras de vestimenta.
“ Um homem tem este discurso quando está puro, limpo, vestido com roupa nova, calça sandálias brancas, com os olhos pintados e untado com os melhores óleos de mirra”.
Capítulo 125 do livro dos mortos-M.Liichthein, literatura do Egipto antigo, Vol. 2, p. 131
Cosméticos para os olhos eram importados de Punt para Hatshepsut, juntamente com, incenso-ihmut, incenso-sonter, símios e macacos. A importação de cosméticos representava o segundo maior negócio na balança comercial com o estrangeiro, imediatamente após a importação de madeira. Thutmose III trouxe uma quantidade não determinada destes produtos das suas campanhas em Naharin. O óxido resultante de folhas esmagadas era misturado com água e cloreto de sódio (pedra de sal), seguindo-se um processo repetitivo de filtragem que poderia durar semanas, até estar completo. O clorídio de folhas resultante, era utilizado como ingrediente para a maquilhagem dos olhos do qual, mediante a adição de gordura e pós secos, se conseguia uma grande variedade de unguentos. As senhoras Egípcias ricas, pintavam as unhas e tratavam a pele e cabelos, com creme e óleos. Na sepultura de três damas Egípcias, da corte de Tutmosis III (1450 AC), encontraram-se uma grande variedade de cosméticos, dos quais chamava particularmente a atenção, umas jarras que continham um creme de limpeza, composto por óleo vegetal e cal, ou talvez gesso.
Os unguentos cosméticos eram muito apreciados e universalmente reconhecidos, tendo mesmo sido utilizados como moeda de troca, antes do aparecimento do dinheiro.
Cremes Corporais
Os Egípcios dispunham de uma grande variedade de cremes corporais, nos quais, como já referimos, utilizavam uma diversidade de óleos. Entre os mais comuns, destacam-se: óleo de linho, sésamo (Sesamum indicum), óleo de rícino (Ricinus communis), óleo de Balanos (Balanites aegyptiaca), óleo de amêndoa de Moringa (Moringa pterygosperma), óleo de oliva (Olea europea) e óleo de amêndoas. Os óleos animais, que também se utilizavam nestes unguentos, derivavam geralmente do gado bovino e dos gansos. Segundo a tradição, Cleópatra banhava-se, diariamente, em leite de burra. O leite de vaca e de mulher, eram usados como remédios terapêuticos (Ebers, 642) e o leite coalhado era usado, topicamente, em produtos cosméticos, sendo rico em ácido lácteo e alfa-hidroxiácidos, muito utilizados na actualidade na indústria cosmética. Tornou-se lendário o chamado, unguento de Mendes, ao qual se referiam Plinio e Dioscórides, e que era muito apreciado, exportando-se para a Grécia e Ásia menor. Ao que parece, era um unguento de complexa composição e que, provavelmente, poderia ser confeccionado de diversas formas, tendo uma delas sido descrita por Plinio como contendo: Óleo de Balanos, resina, mirra, óleo de azeitonas verdes, cardamomo, mel, vinho, gálbano e resina de turpertina. Este composto utilizava-se como creme corporal, depois do banho. Um outro unguento corporal, “para rejuvenescer e devolver a vida”, consistia num extracto de banha de porco e de boi, juntamente com diversas outras substâncias: incenso, cera de abelha, óleo de enebro e sementes de coriandro, que após aquecido, era aplicado sobre o corpo, realizando-se fricções com mirra, após a sua aplicação (Ebers, 652).
Cremes anti-rugas
Os tratamentos anti-rugas eram bastante comuns no antigo Egipto, como nos sugerem as diversas formulações contidas nos papiros médicos.
As rugas tratavam-se com aplicações diárias de uma mistura de incenso, cera de abelhas, óleo de Moringa, e frutos verdes de cipreste (Ebers, 716). A receita termina com a inscrição: “prova-o e verás!”.
Outra receita era composta por pó de goma dissolvido numa substância, não totalmente identificada, chamada água de padou (talvez mel e um óleo vegetal). O resultado era um líquido viscoso que se aplicava sobre a cara, depois da lavagem. Ao que parece, produzia o efeito de “esticar a pele do rosto” (Ebers, 719), que tem algum paralelismo com os modernos “gommages”.
AROMATERAPIA E PERFUMES
Aromaterapia, a arte de manipular fragrâncias voláteis e óleos essenciais, teve o seu início nos tempos antigos, particularmente no Egipto, tendo-se já catalogado 21 tipos diferentes de óleos vegetais utilizados pelos Egípcios. O objectivo desta terapia é o de proporcionar uma experiência holística, tratando simultaneamente o corpo e a alma como um todo. A própria história Egípcia encontra-se profundamente ligada à aromaterapia e aos seus poderes curativos, tendo como patrono o deus Nefertem, deus dos perfumes, filho de Sekhmet (a deusa leoa) e neto de Ra, o mais poderoso deus da mitologia Egípcia.
Os perfumes Egípcios eram famosos por todo o Mediterrâneo. Pliny “O ancião”, escritor Romano autor da “História Natural”, descreve um perfume que ainda mantinha a sua fragrância após oito anos. Os perfumes eram geralmente elaborados com plantas: as raízes ou folhas da “Henna”, canela, turpentina, iris, lilas, rosas e amêndoas amargas, eram mergulhadas em óleo e algumas vezes cozinhadas. A essência era extraída espremendo o resultado da cozedura e adicionavam-se óleos para produzir perfumes líquidos, enquanto os cremes e os unguentos eram o resultado da mistura com gordura ou cera. Muitos perfumes possuíam mais de uma dúzia de ingredientes. A arte de extrair e destilar perfumes, começou há milhares de anos, tendo sido aperfeiçoada em 2500 a.C. Era praticada pelos monges do templo de Denderah, onde uma das suas paredes mostra o método utilizado na extracção e destilação destes óleos, o qual ainda se encontra em uso pelos agricultores Egípcios da actualidade. Os odores agradáveis eram associados aos deuses, sendo Ra, o deus do sol, a fonte de todos eles. A maioria das fragrâncias era proveniente de Punt, tal como descrito nas inscrições que relatam a concepção e nascimento de Hatshepsut.
“Ele encontrou-a enquanto ela dormia na beleza do seu palácio. Ela acordou com a fragrância do deus, a qual já tinha cheirado na presença de sua majestade. Ele dirigiu-se para ela imediatamente, “coivit cum ea” (deitou-se com ela), impôs-lhe o seu desejo e provocou que ela o visse na sua forma de deus. Quando ele lhe apareceu, ela rejubilou perante a sua beleza e o seu amor passou para os seus membros, inundados pela fragrância do deus; todos estes odores provinham de Punt”
J.H.Breasted, Antigos relatos do Egipto, parte 2, capítulo 196
O óleo de cedro era considerado o mais sagrado de todos os óleos destilados, sendo o principal usado no processo de mumificação. Os sacerdotes Egípcios descobriram o verdadeiro poder dos óleos e acreditavam que, certos tipos de perfumes podiam aumentar o poder do indivíduo. Os sete óleos sagrados utilizados na mumificação eram: Festival de perfume, Hekenu, Bálsamo Sírio, Nechenem, Óleo suavizante, o melhor óleo de Cedro e o melhor óleo da Líbia. Estes óleos faziam também parte dos rituais de magia Egípcios. A fragrância Egípcia mais famosa, Kyphi, que significa “boas vindas dos deuses”, acreditava-se ter propriedades hipnóticas. Na cidade do sol, Heliopolis, queimavam-se resinas de manhã, mirra à tarde e kyphi à noite, para o deus Ra.
HIGIENE
Herodotos escreveu:
“Eles são muito cuidadosos na utilização de peças de linho recém lavadas. Eles circuncisam os seus filhos, com intuitos de asseio, dando prioridade à higiene em detrimento da beleza.”
A importância que os egípcios davam à higiene reflecte-se no facto do supervisor real da lavandaria, ser uma personalidade proeminente da corte. Esta preocupação com a higiene e o cuidado corporal transcendia os sexos, sendo que ambos, homem e mulher, recorriam ao uso de cosméticos e óleos corporais. A necessidade de utilizar protecção para a pele, num clima quente e árido, era entendida por todas as classes sociais, fazendo parte das rotinas diárias, a aplicação destes óleos. Existem indícios que provam que a distribuição de produtos, para o cuidado corporal, era feita diariamente, como parte do salário, mesmo às classes mais baixas.
Eles utilizavam swabu (deriva de (s)wab, que significa lavar) como sabão, uma pasta que continha cinza ou barro, muitas da vezes misturados com essências. Os papiros médicos de Ebers, os quais datam do ano 1500 a.C., descrevem uma mistura de óleos animais e vegetais com sais alcalinos, os quais eram utilizados como sabão no tratamento de doenças de pele, bem como, na sua lavagem. Embora tenham sido encontradas algumas casas de banho, é naturalmente aceite, que os Egípcios se contentavam em tomar banho por aspersão ou por imersão nos canais fluviais. Para os cuidados mais específicos do corpo, usavam lavatórios que enchiam com soluções salinas usando areia como agente esfoliante, lavando-se ao acordar, assim como, antes e depois das refeições principais. Nas casas mais abastadas, podiam-se encontrar quartos de banho, onde os escravos deitavam grandes quantidades de água sobre os seus patrões, utilizando um óleo animal ou vegetal, misturado com pó de lima, como sabão. Na lavagem dos dentes usavam outra solução chamada natron, composto natural de carbonato de sódio (Na2CO3), bicarbonato de sódio (NaHCO3), cloreto de sódio (NaCL) e sulfato de sódio (Na2SO4), cujo nome provém do latim, natrium, que significa sódio. Manter um hálito fresco era outra das suas preocupações, mascando folhas de tâmara, para esse efeito.
CABELOS
O cuidado dos cabelos era de vital importância no Egipto, embora fosse frequente o uso de perucas, que eram fixadas ao couro cabeludo com uma mistura de cera de abelhas e resina. As perucas, feitas de lã de ovelha, cabelos humanos ou, mais tarde, fibras de palmeira, eram utilizadas, tanto por mulheres como por homens, em festas, actos oficiais ou simplesmente para se protegerem contra o calor. Era comum utilizar-se cones de gordura na cabeça ou aplicados nas perucas, cuja acção era a de protegerem os cabelos dos efeitos do sol, que além de manterem as perucas humedecidas, exalavam uma agradável fragrância enquanto iam, lentamente, derretendo. Esta prática era tida como um acto social e recorria-se à distribuição dos cones por servos que os colocavam nas cabeças dos convidados.
A realeza podia também utilizar uma aplicação de cabelo, ou barbas postiças, tal como a utilizada pela rainha Hatshepsut, que realçavam o seu “status” real. Quando não utilizadas, as perucas eram guardadas em caixas especiais e colocadas em exposição nas suas casas. O profundo valor simbólico do cabelo existiu em todas as civilizações, tendo sido encontradas numerosas fórmulas para os cuidados capilares, nos papiros de Ebers (Ebers, 432-476). Por exemplo, a queda capilar era tratada com compostos à base de óleo de rícino e meliloto, tendo também sido utilizados tónicos capilares confeccionados com mirtilho, tamarindo e turpertina. Os papiros de Ebers também contêm fórmulas para provocar a calvície, as quais eram utilizadas para trazer a desgraça àqueles que se odiava.
“Folhas de lotus fervidas, adiciona-se óleo e aplica-se sobre a cabeça da mulher que se destesta”
Ebers, 475
Também os cabelos brancos eram tratados com unguentos à base de óleo e extractos vegetais, aplicados quentes sobre a cabeça. Foram achadas diversas fórmulas cosméticas, registadas em papiros, destinadas a “fazer desaparecer o branqueamento dos cabelos” (Ebers, 458, 459 e 460). Outra técnica bem conhecida pelos Egípcios, eram as tintas capilares, como pôde ser comprovado em algumas múmias que apresentavam os cabelos avermelhados, provavelmente recorrendo às propriedades da Henna. A caspa era tratada com uma mistura de farinha de cebada calcinada e gordura de boi (Ebers, 712). O pêlo indesejável era rapado ou depilado, havendo relatos de Heródoto relativos aos sacerdotes que dizem:
“...rapam o corpo inteiro a cada dois dias a fim de que nem piolhos ou outros parasitas adiram à sua pessoa enquanto servem os deuses”
Heródoto, Histórias II – Projecto Gutenberg
Esta prática foi corroborada com o achado de navalhas e instrumentos para a barba, feitos em cobre, bronze, ferro ou até em ouro puro, nos túmulos Egípcios. A depilação realizava-se com a aplicação de cremes depilatórios, feitos à base de ossos de pássaro esmagados, óleo, goma e pepino, entre outros ingredientes, que eram aplicados quentes e removidos após esfriarem (Hearst 155). Também se utilizavam pinças, tj’ait-iret, para extrair os pêlos indesejados.
Alguns estilos de cabelo eram similares aos de hoje em dia, sendo o cabelo curto mais utilizado pelo cidadão comum. Enquanto as raparigas mais novas prendiam o cabelo entrançado atrás, os rapazes rapavam a cabeça e alguns deles, como o jovem Ramsés, usavam uma tufa de cabelo num dos lados. As senhoras abastadas usavam ganchos de cabelo, lâminas, espelhos portáteis e era normal frisarem o cabelo, sendo que algumas, sobretudo as mais jovens, tinham cabelos suficientemente longos para os carapinharem.
“O meu coração pensava no amor que sentia por ti, enquanto metade do meu cabelo já se encontrava carapinhado; saí a correr para te encontrar sem terminar o meu penteado. Agora, se me deixares terminar de carapinhar o meu cabelo, estarei pronta num instante.”
pHarris 500 - M. Lichtheim, Literatura do Antigo Egípto, Vol. 2, pág. 191
Houve períodos em que os cabelos se usaram longos sobre os ombros ou até mais compridos, tanto por homens quanto por mulheres. Mas também houve épocas em que os adultos, homens e mulheres, usaram as cabeças totalmente rapadas. Alguns historiadores atribuem este facto à prevenção de piolhos.
REFLEXOLOGIA
A reflexologia podal é uma técnica antiga de tratamento por pressão que envolve a aplicação de pressão focalizada sobre pontos “reflexivos”, localizados nos pés, os quais correspondem a determinadas áreas do nosso corpo. Não se sabe ao certo quão antiga é esta técnica, no entanto, existem alguns factos que apontam para a sua utilização pelos Egípcios, há cerca de 5000 anos atrás:
Ø Uma gravura encontrada num dos templos construídos por Ramesses II, que aponta para um tratamento de massagem efectuado aos pés cansados dos soldados, no decorrer das longas caminhadas a caminho da batalha de Qadesh;
Ø Uma gravura encontrada no túmulo do médico Ankhmahor, em Saqqara, no Egipto, que sugere uma massagem aos pés e às mãos, na qual encontramos uma inscrição com a exclamação de um paciente: “Não me faças doer.”; e a resposta do terapeuta que diz: “Actuarei de forma a agradar-te”.
Ø O túmulo de Ptah-hotep contém mais uma magnífica gravura em baixo relevo, que mostra um escravo a massajar as suas pernas e pés;
Ø Relatos históricos confirmam que Marco António massajava os pés de Cleópatra nos jantares festivos.
Acredita-se que a reflexologia terá sido passada, pelos Egípcios, aos Romanos e daí até aos nossos tempos, sofrendo uma série de mutações que a transformaram nas técnicas utilizadas hoje em dia.