por: Luciaurea Faruk
As estruturas coluna, quadril e pé são muito importantes na prática da dança, sem comentar as outras como a cintura escapular, as articulações dos pulsos, das mãos e dos dedos, largamente utilizados em movimentos de ondulações diversas.
Na dança, o andar é aplicado de forma contrária ao do ciclo da marcha, em que o calcanhar contata a superfície do chão e em seguida, o apoio é transferido para o metatarso. O andar na meia ponta alta proporciona um ar de elegância, principalmente se o apoio é realizado do metatarso para o calcâneo, quando se utiliza o pé inteiro no chão.
É igualmente necessário compreender como ocorre o processo cinesiológico do corpo ao dançar. Não pensamos em como funciona nossa movimentação quando estudamos o corpo na dança. É preciso notar a movimentação pélvica na dança, e o impacto que esta causa na coluna. Na marcha natural, existe um movimento sutil onde uma ligeira rotação pélvica diminui a ondulação vertical, na qual a pelve oscila sobre o eixo da coluna lombar. Quer dizer que, durante o passo, o grau de compensação da pelve diminui o ângulo, entre a pelve e a coxa, e a perna e o solo. Isso significa que ocorre uma inclinação pélvica, um leve balanço. Podemos dizer que a perna de apoio sofre uma adução, e, que a perna em movimento, uma adução muito leve, estando fletida no quadril e joelho, para se erguer da superfície e iniciar um novo ciclo.
Na Dança do Ventre, isto ocorre de forma mais intensa, solta, e, ou, forte, em relação aos eixos do corpo. O shimmy na articulação do quadril ocasiona uma oscilação muito maior sobre o eixo da coluna lombar em que a pelve se movimenta. A inclinação pélvica é ainda maior no caso do Shimmy Soheir Zaki, e também temos uma adução considerável da perna de apoio.
A flexão do joelho durante a fase de apoio é imprescindível na marcha comum. Muito mais na Dança do Ventre. Na marcha comum, o joelho se estende quando o calcanhar toca o solo, iniciando a fase de apoio para a perna, e o corpo se desloca sobre o seu centro de gravidade com o joelho fletido, passando sobre o pé e o joelho, gradualmente, estendendo-se novamente, até uma nova extensão no fim da fase de apoio. A flexão aqui não é uma flexão grande.Trata-se apenas do relaxamento da articulação.
Na Dança do Ventre o deslocamento ocorre de forma contrária. Parte-se com o joelho levemente estendido com o metatarso tocando o solo, deslocando o corpo sobre o centro de gravidade, relaxando o joelho, quando o pé inteiro toca o solo.
É muito importante notar que se a conjugação de movimento entre joelho e tornozelo, relaciona-se com a ondulação da pelve na marcha normal, na Dança do Ventre isso acontece de forma mais visível. Na marcha comum, durante o apoio do metatarso, o tornozelo realiza uma planiflexão e gradualmente flete, em sentido plantar, para se estabilizar no chão enquanto o corpo se aproxima do centro de gravidade e o quadril tem tempo para se estabilizar novamente. Como na dança aplicamos o andar inverso, ou seja, da ponta para o calcanhar, obtemos maior leveza e uma diminuição de peso considerável para que a pelve ondule livremente numa amplitude maior.
A atividade muscular possui, então, um papel de grande importância para a realização do deslocamento, pois trabalham juntos, os músculos da coluna, quadril, abdome e perna.
É importante a conscientização de que tipos de movimentos e posturas do membro inferior afetam pelve e coluna. Podemos observar concretamente que todos os músculos, mesmo as cadeias musculares mais distantes deste ponto, são solidários, auxiliam uns aos outros, para a realização de uma marcha.
Uma outra coisa extremamente importante é a influência do estado psico-emocional no comportamento da estrutura.
Fazendo notar, que o estado psico-emocional de uma pessoa pode alterar a maneira como ela anda e utiliza o próprio corpo, podemos citar Feldenkrais, que disse certa vez "A única coisa que você pode mudar é a maneira como você faz o que você faz". Isso nos leva a pensar que a musculatura funciona através do hábito. A cada repetição de um movimento, o corpo se organiza e vai assumindo uma configuração específica que vai se confirmando no tempo.
Uma má mecânica da unidade pélvica na prática do shimmy, por exemplo, devido a uma prática inadequada ou excessiva, e o emprego contínuo e exagerado de forças, provoca desequilíbrios e sobrecargas anormais, gerando dor no quadril, joelho ou coluna. Desenvolvem-se síndromes e patologias em função do uso excessivo, das sobrecargas nas articulações, e a pessoa começa a sofrer restrições nos movimentos, fraquezas musculares e dores, que prejudicam o equilíbrio e o controle postural na dança.
Dentre as patologias que podem ser desenvolvidas estão a bursite, a lombalgia e a tendinite, que provocam dor, que pode ser sentida na parte lateral do quadril, podendo descer lateralmente pela coxa, indo até o joelho, ou ainda pode ser sentida na virilha, ou ainda ao redor da região dos ísquios ou lombar; e o desconforto pode ser sentido após um longo período, ao ficar de pé, assimetricamente com o quadril afetado elevado e aduzido, com a pelve caída sobre o lado oposto, ou ainda com a realização de flexões de quadril ou na posição sentada, e também durante a realização de um exercício que provoque extensão excessiva enquanto a musculatura estava se contraindo: e a execução de shimmies mal compreendidos, deslocamentos mal estruturados, ondulações da coluna que exijam um preparo que não foi respeitado ou desenvolvido, podem, infelizmente, levar ao desenvolvimento destas patologias.
Compreendamos que um ato mecânico, aparentemente simples, pode ser tão complexo, que envolve articulações, músculos, centro de gravidade, equilíbrio, sistema nervoso central e periférico, vida psicológica e emocional. Lembremos também que a postura está intimamente ligada à auto estima.
Vamos terminar este artigo com Moshe Feldenkrais, que expressou uma idéia muito aplicável a respeito do que é possível e impossível fazer: "Tornar o impossível possível, o possível fácil, o fácil elegante e esteticamente satisfatório".
Professora, escritora, dançarina, pesquisadora, psicanalista em formação, mestra Reiki, radiestesista e terapeuta (CRT 39514), Simone Luciaurea Coelho Barbosa (Luciaurea Faruk), desenvolveu-se em terapias corporais através da dança, sendo precursora da Geometria Corporal Expressiva – inspirada pela sua anterior formação em arquitetura. Trabalhou como coreógrafa e produtora cultural (DRT 27258).
Parabéns, temos algumas funções em comum, muito obrigada pela maravilhosa aula.
ResponderExcluir