PROVÉRBIOS ÁRABE DO DIA:

"Dança do ventre, é a modalidade de dança que melhor simboliza a essência da criação, onde se agradecia o milagre da vida, louvando, com dança e oração, o prazer, o nascimento e a sensualidade feminina."

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A DANÇA CONTRA O CRIME

Por: Jamal Marzuq

Misteriosa, sedutora, encantadora, podemos definir assim a bailarina de dança do ventre, não importa sua aparência, quando entra em seus trajes ela se transforma, vira uma semideusa que tem o poder no balanço de seus quadris, que hipnotizam aos movimentos de seus braços, e encanta ao emitir seu sorriso, Leila era assim, uma bailarina com anos de experiência, tinha uma escola de dança em um bairro da periferia onde dava aulas as pessoas carentes, ela tinha o prazer de levar a dança a todas as classes sociais por isso cobrava valores apenas pra manutenção de sua escola, suas aulas eram sempre cheias, classe lotada, tinha desde crianças a mulheres de terceira idade, além da dança passava em suas aulas também um pouco da cultura árabe. Ela exigia sempre de suas alunas novas que estudavam que apresentassem boas notas na escola, ser exemplo na comunidade, pois a disciplina e empenho não deviam ser só nas aulas de dança e sim em todo lugar, afinal uma bailarina tem que ser completa seja na dança, seja na escola, seja na sociedade. Certo dia em meio a uma aula entrou um pai e também esposo de suas alunas, totalmente embriagado e drogado, desferindo palavrões a todas que se encontravam na aula, inclusive a professora dizendo que aquilo era imoral, que ela estava ensinando sua mulher e sua filha a serem vulgares, que elas estavam desmoralizando sua família por causa da dança e das roupas que usavam, Leila sabia que ele estava agindo daquela forma por causa do efeito da bebida e das drogas, sua esposa já tinha falado a ela que ele era usuário e suspeitava que ele fosse envolvido com o trafico da comunidade, por isso resolveu não entrar em discussão com o homem, ele saiu levando sua mulher e filha pelos braços saiu da escola esbravejando seus gritos de protesto.
Leila após o episodio chorou profundamente, pois se sentiu humilhada com as palavras que lhe foi desferida por aquele homem, pensou: - Será essa a visão que todos têm da dança do ventre? Que somos vulgares?
Ela decidiu levantar isso, queria saber da comunidade o que eles realmente viam na dança do ventre, começou a participar mais ativamente da comunidade organizando eventos de dança, onde além da dança passava sobre o seu surgimento e a cultura a qual foi criada, em meio seus eventos ela sempre conversava com as pessoas pra saber qual era a visão delas em relação à dança, muitas diziam que era diferente e bonita, e gostavam da sua historia quando sabiam de sua origem, pois ate então não sabia que se tratava de uma arte milenar e de uma cultura tão rica, viram que a dança não tem nada vulgar, que é sim uma dança sensual, mas não é vulgar, nem as bailarinas estão lá para seduzirem ninguém, ela conseguiu mostrar a beleza e a arte da dança a comunidade.
Certo dia ele chegava à escola pra dar aulas quando foi abordada por dois homens armados que a renderam e entraram em seu carro pedindo pra ela dirigir e ficar quieta senão se machucaria. Leila ficou apavorada, eles pediram a carteira dela, ela mostrando a bolsa no banco traseiro, o bandido que estava sentado atrás a pegou e começou a revirar encontrando sua carteira, logo pegou seus cartões de créditos e do banco dizendo: - Olha aqui! Hoje vamos às compras!
O bandido que ia sentado à frente com Leila falou pra ela ir ao caixa eletrônico que ela iria pegar o dinheiro para dar a eles, chegando a um caixa eletrônico Leila desceu acompanhada com um dos bandidos e foi ate o caixa sacar dinheiro, ela conseguiu tirar o máximo permitido no dia, porem o bandido viu que seu saldo era bem maior que o saque que ela realizou e disse que ela ficaria com eles ate sacar todo dinheiro em sua conta, Leila se desesperou, estava sendo sequestrada, o bandido a mandou voltar ao carro e dirigir ate uma região afastada, onde tinha algumas chácaras, a mandou entrar em um caminho estreito em meio ao mato, ela estava desesperada, tremia muito e suava frio, pois temia oque podia lhe acontecer, logo chegaram a um casebre aparentemente abandonado, os bandidos a mandaram descer do carro e os acompanhar, entraram no casebre que tinha alguns moveis em cacos, tinha muita sujeira e o chão cheio de pontas de cigarros e capsulas de drogas, ali provavelmente era um lugar onde se drogavam e também era usado como cativeiro. Leila foi amarrada a um velho sofá sob ameaças de a matarem caso ela tentasse fugir ou gritar, falavam que o chefe que estava pra chegar não gostava de hospedes que não colaborassem, se isso acontecesse jamais ela sairia dali com vida, ele era cruel e já tinha mandado matar muita gente ali naquele local, eles apenas queriam seu dinheiro e depois a liberariam. Aquelas palavras acalmou um pouco Leila, eles deixaram o lugar a deixando amarrada e amordaçada no velho casebre, logo cai à noite e com isso o frio aumenta, pois o vento penetrava fácil pelas janelas sem vidros e o teto esburacado, a escuridão chega e Leila se vê com medo e frio, ouve diversos barulhos na gélida noite, ela ali amarrada a um velho sofá, não sabia se estavam a sua procura, pois não foi dar a aula da tarde, com certeza suas alunas estavam preocupadas com a ausência dela, tentou se acalmar, pensou em coisas boas, os bons momentos que viveu. Logo veio a sua mente a dança, se lembrou de quando fora pro Egito estudar, das belezas daquele país, em suas apresentações, nas musicas que gostava de dançar, com isso foi se acalmando, relaxando, até nesse momento difícil que vivia, a dança era sua aliada. Ao amanhecer o dia, Leila estava cansada, com fome, medo, frio que passara a noite toda, e sono, pois apenas cochilou alguns momentos, escutou um carro chegando, era o seu carro que estava com os bandidos, e ouviu a voz de uma terceira pessoa, provavelmente o chefe o qual eles se referiram um dia antes, abriram a porta e um deles perguntou se ela tinha dormido bem, em um tom irônico, Leila ficou calada, logo o bandido diz: - Esse é o nosso chefe, faça tudo que ele mandar e você sairá daqui viva!
Ao levantar os olhos Leila vê o pai furioso que dias atrás foi buscar a esposa e filha de sua aula e saiu a humilhando com suas palavras, o bandido também olha espantado a professora de dança e sai pra fora chamando os dois comparsas. Leila tenta ouvir oque eles falavam, mas percebia que o chefe estava exaltado, ele se assustou ainda mais, pois já tivera problemas com ele no passado, tinha ouvido pela boca de seus comparsas que ele ara cruel e agora estava ali, refém, nas mãos dele, começou a chorar baixo pois agora temia ainda mais por sua vida.
O chefe/pai entrou sozinho na casa, se aproximou dela e começou a desamarra-la, Leila começou a chorar desesperada pois sabia que o homem ia mata-la, ela a pegou pelo braço e colocou-a sentada no velho sofá, e pediu pra ela parar de chorar e se acalmar, pois não iria machuca-la, ele falou em um tom sereno e calmo que isso fez Leila ficar mais calma parando de chorar, ele sentou-se no chão a sua frente e lhe pediu desculpas pelo dia em que entrou em sua escola e a humilhou, Leila ficou pasma, ele continuou, dizendo que estava arrependido e também não sabia que era ela que estava ali retida no cativeiro, já tinha falado aos seus comparsas que eles pegaram as pessoas errada, ele depois de tudo que fizera aquele dia notou que a vida de sua família tinha mudado depois que sua mulher e sua filha passou a frequentar as aulas da dança do ventre, que sua filha ia bem na escola e tinha mudado o comportamento com ele, que não andava mais com algumas más companhias, sua mulher também estava mais alegre, ele após notar essa mudança passou a ir nos eventos que Leila realizava mas sempre ficava escondido, mas que começou a admirar a dança, ele sabia que estava em caminhos errados, que as drogas o fizera mudar muito, que era um criminoso, mas que estimava muito sua família e não queria deixar que nada de mal acontece-se a elas. Pedindo desculpas a Leila o bandido devolve-lhe seus cartões e as chaves de seu carro, pedindo apenas que ela não vá a policia o denunciar, pois ele não sabia que era ela que tinham pego e também que iria um dia se desculpar com ela em sua escola e não ali como acabará de fazer. Leila pega seus pertences e sai, entrando em seu carro ele vai embora de seu cativeiro, no caminho sua cabeça vai a mil, oque ela deveria fazer, ir a policia? Ficar quieta? Não conseguia achar uma resposta.
Chegando em sua casa Leila não consegue dormir, pensando em tudo que passara. No dia seguinte ela vai à escola ainda que sonolenta e confusa, ao longe avista muitas alunas a esperando, quando chega logo é questionada por todas de onde fora no dia anterior que sumiu e não avisou ninguém, que ficaram preocupadas com ela, Leila inventa uma desculpa dizendo que teve um mal súbito e foi às pressas ao hospital por isso não deu tempo de avisar e que agora estava tudo bem. Os dias se passaram Leila seguiu sua vida normalmente não deixando o ocorrido lhe abalar, buscou na dança a força que precisava, e se empenhou ainda mais, pois a dança que mostrou aquele homem rude e mau caráter a mudança que ele viu em sua família e aprovou isso, soube que tudo melhorou depois que sua esposa e filha começaram a praticar dança do ventre, embora ele mesmo não mudasse, essa dança era a força que ela tinha pra superar e seguir em frente cada dia mais fortalecida. Muitas vezes ela viu o bandido levar mãe e filha as aulas, quando ela o cumprimentava ele baixava a cabeça, mostrando-se arrependido do episodio passado, Leila decidiu não denuncia-lo, por que sabia que não tinha provas para incrimina-lo sem se expor diretamente, ela também pensava nas outras pessoas que podiam passar pela mesma situação que passou, mas sabia que dia menos dia ele seria pego. Ela tinha sido salva da morte por ser a professora de dança do ventre da esposa e filha de um traficante, quando ela achava que isso a levaria a morte certa foi ai que se surpreendeu e foi salva. Um dia após não conseguir dormir direito à noite Leila acordou com uma ideia fixa na cabeça: - Se aquele homem entendeu a importância da mudança que a dança fez em sua família, porque ele mesmo não pode mudar através da dança?
Era essa a ideia fixa na cabeça de Leila, ela ia falar com o bandido, ia mostrar a ele que também podia mudar, podia deixar a vida de crimes de lado e se tornar uma nova pessoa assim como sua esposa e filha se tornaram. Um dia quando ele foi levar sua família à aula ela disse que queria conversar com ele, ele a olhou com um olhar ameaçador, mas Leila não se intimidou e disse que precisava falar com ele, ele concordou e começou a escutar o que a professora tinha pra lhe falar, durante a conversa Leila foi explicando que ele podia ser uma nova pessoa, pois ele tinha um bom homem dentro de si, homem este que reconheceu a mudança em sua família que diante uma situação de superioridade, soube passar isso, pedindo desculpas a ela e a liberando mesmo sabendo que ela podia denuncia-lo, Leila ia falando e o homem escutava calado, no final ele a olhou com lagrimas nos olhos e disse: - Como você me ajudaria a deixar isso, como a dança pode me ajudar?
Leila sentiu-se vitoriosa, ele estava disposto a mudar, a primeira coisa que Leila disse a ele era se aproximar ao máximo de sua família e começar a se familiarizar com a dança. Em pouco tempo já participava das rodas de Dabke, e com isso foi se tornando um dançarino árabe, começou a participar dos eventos que Leila realizava, era presença masculina garantida nas apresentações.  Logo se transformou em um bailarino árabe requisitado em vários eventos pelo Brasil, a dança o salvou. Leila seguiu em sua tão amada profissão de bailarina e professora de dança do ventre, e agora tinha mais um dos infinitos motivos de amar a dança, a dança podia tudo principalmente mudar algo que achamos impossível de se mudar, a dança pode tudo, sempre.


Esse conto faz parte do livro: Um dia, Uma noite, Dançando com você!  De Jamal Marzuq, que em breve será lançado.

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